sábado, 2 de novembro de 2013

CARTINHAS DE AMOR...


Sou do tempo da timidez no enamoramento e diria hoje que era bonito a gente ficar com o rosto vermelho como um pimentão quando quem gostávamos se aproximava ou mandava bilhetinhos por debaixo da cadeira escolar.

Sou do tempo que amar precisava da escrita, do papel-carta, que, mesmo morando algumas quadras de distância de quem supostamente amássemos, era imprescindível se ir ao correio para postar uma cartinha cheia de afeto dando sinais desse sentimento tão especialmente protegido pela falta de ousadia.

As cartinhas de amor não eram manuscritas apenas por adolescentes sonhadores, qual não seja os adultos românticos também flertavam via postal.

Um amor que foi morar noutra cidade... uma paixão que buscou fazer uma faculdade quilômetros de distância do coração amado... tudo isso contemplava noites de escritas em papel pautado ou bloquinhos, cujo pano de fundo havia o melhor da gente: a alma expondo a verdade!

Dentre uma lágrima ou um sorriso escrevíamos o que sentíamos, sem medo nem vergonha.
Julgávamos que a cartinha de amor tinha uma incumbência exclusiva e velada de deixar transparecer sentimentos de profunda admiração.

Como era bom aquele tempo que aguardavamos, no portão, o carteiro e lá vinha ele trazendo um carta endereçada por quem sonhávamos ser 'atropelados' por beijos sublimes, palavras de carinho, comprometimento.

Muitas vezes, as correspondências chegavam perfumadas ou acompanhadas de uma pétala de flor e os mais sortudos recebiam trevos de quatro folhas ...





Sobre esses mimos de amor adormecíamos felizes, encantados...

Belos momentos que não voltam mais por que deram lugar a outro tipo de comunicação: mais rápido e sem a febril espera do retorno e da sadia saudade.

As cartinhas de amor foram substituídas de inúmeras formas, mas quem dera ainda pudessemos resgatá-las para nos aproximar de quem, porventura, ousasse perfumar o indisciplinado mundo dos sentimentos pueris.

Vamos em frente, então...

Afinal... os carteiros ainda não foram substituídos, graças a Deus.


 
 
Maria Marçal - Perambulando pela vida como muitos



 
 
 


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