sábado, 29 de agosto de 2009

CADÊ MEU PAI?





Poderia dizer muitas coisas nesta véspera do dia em que meu pai faria aniversário,
30 de agosto, mas se passam 14 anos de seu falecimento e não me sinto mais triste,
perdida, sem identificação, como antes.

Meu parceirão dos domingos de churrasco de ovelha (que fazia especialmente para mim), resolveu partir e não deixou o endereço.

No começo, suplicava a Deus resposta do seu paradeiro, se estava bem, do porquê me deixar com tanto sofrimento, lastimando, chorando, deixando de brigar ou papear com um homem que me fez nascer.

Deus, não nunca me respondeu.
Nem meu pai.

Passou anos e aquela revolta por não tê-lo comigo, dando colo, fazendo discursos na ponta da mesa, foram dando lugar a outro sentimento: parei de buscar meu pai dentro de casa, na sua cadeira predileta, nos passeios de finais de semana em caravana com toda família, nas viagens no seu carro acompanhado de um chimarrão, cuja garrafa térmica a mãe tinha sempre o cuidado de levar a água na temperatura que ele adorava.

Hoje, pergunto: cadê meu pai?

Não sei.

Está no céu, está nas minhas orações, está, também, nos meus discursos que herdei dele e lhe falo frente à sua fotografia na estante da sala.

Possivelmente, tenha a companhia de outros tantos amigos que já partiram para esse mundo desconhecido e por mais que ame meu genial paizão, não quero ainda encontrá-lo e lhe dar um abraço apertado. Quero ficar aqui ... buscando meu futuro ao lado da Maria Julia (sua neta que ele chamava de "Neguinha"). Querendo um novo amanhã cheio de vida para mim.

Acho que o pai gosta de saber que penso assim hoje!

É... me sinto feliz em ter parado de procurar pelo meu pai.

Hoje deixo ele voar, descampar por paradouros, quem sabe gauchescos?... quem sabe!!

O churrasco de ovelha não tem mais o mesmo gosto daquele de tempos idos, porque agora vou na churrascaria quando tenho vontade de saborear nosso melhor prato e, creio, que o dia em que decido comer as carnes que nós dois tanto gostávamos, esse dia... ele deva estar me espionando em algum lugarzinho... mas deixo ele do jeito que quer.... totalmente livre e sem fazer sombra aos momentos de alegria que me rodeiam.

É ... como é bom parar de procurar!

Como é bom quando alcançamos essa serenidade espiritual e paramos de procurar por algo ou alguém!!

Por isto, a sabedoria dos mais velhos é corretíssima quando afirma: pare de procurar que acharás!


Eu já parei e achei paz em mim e, com certeza, o espírito de meu pai sorriu para o meu discernimento.

Tchau, pai...no teu novo cantinho as flores plantadas, já nasceram.

Maria Marçal Souza



Crônica CADÊ MEU PAI
Homenagem ao meu pai, Ulisses Marçal, pela passagem
de seu aniversário: 30 de agosto.

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