segunda-feira, 11 de junho de 2012

SENTADA AO PIANO...



Quando era pequenina, nos infantis oito anos por aí, via da janela de casa o casarão de nossa vizinha da frente, Dona Zilinha. Pois essa casa grande tinha, na parte baixa, uma peça, onde ela dava aulas de piano.

Sonhava tanto em ter aulas de piano!!...mas era caro e meus pais não podiam pagar para mim.

Ficava, porém, debruçada à janela , à tardinha, ouvindo aquele piano tocar melodias lindas e meu pensamento se transformava em anjos brancos, com asas enormes que iam em direção ao menino do colégio que tanto adorava ...

Sabia que tudo aquilo não estava ao meu alcance: nem as aulas de piano nem, tampouco, aquele gurizinho bonito da Classe que as meninas admiravam, também.

E, no passar dos anos, percebi que minha vontade de sentar frente a um piano ainda fazia parte da magia infantil nunca alcançada.

Tornei-me adulta, estive casada por muitos anos, nasceu minha filha, que hoje se tornou uma bela moça cheia de sonhos como fora comigo. A diferença é que lhe ofereci, quando pequena, aulas de piano...

Ela não quis! 

Mas, por quê não quis? !!!

A resposta é simples: porque  não fazia parte de seus desejos realizar esse sonho, cujo - na verdade -pertencia exclusivamente a mim.

Quão  egoístas somos nós que idealizamos lá atrás  e, ao não concretizar, legamos aos nossos filhos vontades não construídas.

A vida da gente, sem nos darmos conta, por vezes, é uma roda que gira sob o passado com uma nota distoante:  não há mais ferrugens de tanto passar...passar.

Nossos filhos não guardam sonhos, muito pelo contrário, os fazem acontecer do jeito deles...

Nossas ambições de amor, de casinha cor-de-rosa, de se tornar um famoso jogador de futebol, ficam armazenadas no baú das recordações e jamais serão esquecidas e/ou substituídas por outras.

Sentada ao piano! ...Pertence ao meu passado, assim como, os sonhos do estimado leitor que aqui vier ficarão eternizados na mente nas frustradas tentativas de torná-los reais.

A lição que tiro hoje é de que não devemos querer que nossos filhos sejam porta-vozes daquilo que somente a nós pertence.

Deixar que sigam seu caminho com liberdade, com escolhas diferentes das que tínhamos, seja profissional ou emocionalmente, precisa constar no cardápio saudável de uma mesa em família e feliz.

Sentada ao piano...

Ok...Ok... Você venceu, belos novos tempos de reavaliar valores.




Maria Marçal

0 COMENTÁRIOS: